top of page

Hozier | Entrevista para a Hot Press Magazine 2025

Hozier respondeu perguntas de leitores e fãs ao redor do mundo (e várias perguntas de fãs brasileiras!) nessa entrevista de 10 páginas para a revista irlandesa Hot Press, edição de agosto de 2025. Você pode adquirir sua cópia nesse link: https://shop.hotpress.com/products/hot-press-issue-49-08-preorder-now


FOTOS POR: RUTH MEDJBER


ree


COM HOZIER SE PREPARANDO PARA UMA APRESENTAÇÃO MUITO ESPERADA NO ELECTRIC PICNIC COMO HEADLINER, PENSAMOS QUE SERIA A OPORTUNIDADE PERFEITA PARA OS FÃS MANDAREM SUAS PERGUNTAS PELO HOT PRESS MIXED GRILL. OS RESULTADOS TORNARAM ESSA LEITURA FASCINANTE, COM O ASTRO DO BRAY FALANDO SOBRE SEU PROCESSO CRIATIVO, POLÍTICA, LÍNGUA IRLANDESA, SEUS LIVROS E FILMES FAVORITOS E MAIS. ALÉM DISSO, DESCOBRIMOS SEU BISCOITO FAVORITO E SE ELE SERIA JURADO NO DRAG RACE.


"Olhando para os últimos 10 anos, qual foi um ponto alto e um ponto baixo na sua carreira? Existem oportunidades que você olha para trás agora e gostaria de ter aproveitado?" LAURA MAHER, DUBLIN


De modo geral, é difícil apontar um único ponto alto ou baixo. Existem lições que você aprende ao longo do caminho, e há momentos pelos quais você é muito, muito grato, que te encorajam e te fazem sentir como se eles estivessem alinhados com algo, ou que eles têm uma qualidade auspiciosa.


As lições que você aprende geralmente acontecem quando você toma decisões que seu instinto não apoiava 100%, quando você decide algo por medo de perder uma oportunidade. Então não é tanto sobre oportunidades que eu gostaria de ter aproveitado, mas talvez mais sobre ter feito trabalhos que eu não precisava ter feito, ou coisas que acabei fazendo e que acabaram esvaziando mais o meu copo do que enchendo ele energeticamente, criativamente, psicologicamente etc.



"Qual foi a primeira música que você não apenas ouviu, mas sentiu nos ossos – e por que ela ficou com você?"  KAYLA HENDERSON, PORTLAND, EUA


Algumas gravações que eu ouvi quando criança, da coleção de discos do meu pai, definitivamente tiveram um efeito duradouro em mim. Ele sempre teve gostos bem ecléticos. Ele costumava tocar muito Björk no carro. Eu me lembro de ouvir a versão dela de Like Someone In Love, do álbum Debut, que é só ela acompanhada por um harpista em uma performance tão bonita. Parece uma sessão ao vivo, você pode ouvir o tráfego passando ao fundo. Quando criança, eu achava que aquilo era uma das coisas mais bonitas que já tinha ouvido. Meu pai tinha coleções que reuniam diferentes cantores, cantores de jazz. Lembro-me de ouvir Little Girl Blue, de Nina Simone. Eu devia ter uns sete, oito ou nove anos e a voz dela era como nada que eu já tivesse ouvido – e, sinceramente, como nada que ouvi até hoje.


Também me lembro de ouvir Sam and Dave, especialmente Soul Man, pela primeira vez. A energia daquela faixa, o ritmo, a força nas interpretações vocais… novamente, me prendeu muito. É como uma enxurrada de alegria quando você ouve algo que realmente te toma, sabe?



"Você tem feito turnês pelo mundo todo, tocando para plateias enormes. Sente falta dos lugares menores e mais íntimos onde costumava tocar há 10 anos?" — NADÉGE DRISS, SKERRIES, IRLANDA


Existe uma qualidade especial, algo único nos lugares menores. Tive a sorte de tocar em alguns deles em 2023, pouco antes do lançamento do álbum. Fiz alguns shows intimistas. Tocamos no Troubadour, tocamos no The Academy em Dublin para ensaios, então fizemos bastante shows em clubes.


Toquei no Bowery Ballroom de novo. Essas eram casas que, há 10 anos, foram um marco enorme para mim, então poder voltar e tocá-las novamente em 2023 teve um clima de festa. Parece que você consegue aproveitar mais, porque na primeira vez que você está lá existe muito nervosismo, muita pressão, muita responsabilidade em cima disso, mas agora é como uma festa. Você pode conversar mais com a plateia e aproveitar o momento.


ree


"Em 2020, você fez algumas lives no Instagram e TikTok lendo poemas e contos, e percebi que alguns deles inspiraram músicas do Unreal Unearth. Como eles te inspiraram e como você os transformou em músicas?" — NINA ARIAS, ROSÁRIO, ARGENTINA


Acho que naquele período, 2020, 2021, eu tinha muito mais tempo livre, especialmente em 2020, por causa da pandemia global e do lockdown. Eu tinha tempo para simplesmente ficar nesse espaço interno imaginativo que se cria quando você lê esses poemas épicos antigos, como Dante ou Ovídio. E eu sempre senti essa culpa duradoura por ter largado a faculdade, como se houvesse toda uma literatura na qual eu nunca tivesse realmente mergulhado.


Então existe algo visualmente maravilhoso naqueles trabalhos, como com o Ovídio em Metamorfoses. Pelo que entendo, ele foi um dos primeiros poetas de seu tipo de poema a se dirigir diretamente ao público. Quando descreve o dilúvio, ele literalmente escreve: “imagine isso”, tipo, "imagine isso na sua mente." É interessante, como se fosse uma voz na cabeça do leitor ou ouvinte. Algo que, para sua época, era uma novidade, ou ele foi um dos primeiros de sua geração a fazer isso no estilo dele. É tão simples, mas achei que tinha algo legal nisso.


Acho que é como naquela música do Robbie Robertson, Somewhere Down The Crazy River, em que o segundo verso começa com: “Tire uma foto disso, os campos estão vazios, um Chevy ‘59 abandonado.” Então coisas assim despertavam uma ideia e eu queria segui-la. Ou, no caso do Inferno de Dante, esses momentos, essa incerteza, essa sensação de pavor, essa sensação de entrar em algo. Acho que eu tinha espaço para deixar minha mente dar sentido a isso em forma de música ou letra, de como isso soaria, como seria sentido...



"Qual é o seu biscoito favorito?" — LINDA HAYDEN, NEWBRIDGE, IRLANDA


Obrigado, Linda. Meu biscoito favorito...sendo honesto, acho que um Purple Snack ou um Club Milk, algo assim. Aquelas barras de caramelo da Tunnocks também merecem estar aqui. Então, se é para escolher, vou escolher grande, então pode pegar qualquer um desses três.



"Existiram várias versões da música ‘Francesca’ antes de chegar à final. O fã clube de Francesca está morreeeendo de curiosidade para saber: como eram as outras versões da música?" — MIA RAVEN, SEATTLE, WASHINGTON, EUA


A primeira ideia de Francesca era como uma música de transição, que funcionava como uma ponte de uma parte para a outra. Nessas primeiras versões, minha ideia era que ela faria a transição para o que então era a versão original de Hymn To Virgil, cuja letra tinha um foco um pouco diferente:


"Sinto falta do horizonte aberto,

Sinto falta do céu infinito,

O ar elevado, a cor de lá;

O tumulto do azul,

O dourado, o branco..."


Era uma tentativa de escrever com uma voz que pudesse contar duas histórias ao mesmo tempo. Uma que oferecesse imagens do ponto de vista dos personagens do poema e, com as mesmas palavras, pudesse oferecer fragmentos de experiências acima da superfície em 2020/2021.


Essa ideia de que Dante não abandonaria seu companheiro Virgílio em um mundo justo parecia adequada para explorar numa época em que tantas decisões, sacrifícios e políticas foram tomadas durante a pandemia por tantas pessoas, todas motivadas pela ideia de que estávamos fazendo isso uns pelos outros e por aqueles que amávamos.


A versão inicial de Francesca, no entanto, dava voz à personagem em sua recusa de estar no inferno. Mas eu gosto de imaginar que a versão lançada da música pode ser ouvida como oferecendo uma voz para Paolo, que está em silêncio no poema, exceto pelo seu choro.


O primeiro rascunho eram alguns versos curtos focados apenas nela protestando contra estar envolvida na obra como um todo.


Há um verso no Canto V (que traz Francesca e Paolo) pelo qual fiquei levemente obcecado. Tudo, desde como ele soa até como poderia ser interpretado e o que ele queria dizer, me intrigou por um bom tempo: "O amor, que não absolve ninguém amado de amar."


É uma frase que para mim é tão linda, mas que também contém essa linguagem obscura de condenação e julgamento. Eu queria brincar com as palavras “beloved/belonged” (amado/pertencido), em referência a esse verso, e como o ato de amor dela, na verdade, a libertou ou a absolveu de qualquer senso de pertencimento. Eu esperava encontrar uma forma de ela quebrar o esquema de rimas ou “regra” no final.

I.

Não foi o amor que me trouxe aqui,

Mas ficções escritas por homens sustentam a

minha condenação por todos esses anos

II.

Minha forma jovem prometida a alguém velho

foi arrancada de mim em sangue pelo simples

fato de não fazer o que me mandaram

III.

E atos como os meus inspiram medo

Amor que absolve e retifica

por todos os "pertencidos" pelo amor aqui

IV.

Tomei uma liberdade para a minha vida

Eu não me arrependo, diga a eles que eu

Rejeito todas as alegações e desafiaria

as regras dos homens e seus deuses um milhão de vezes


Foi uma ideia que escrevi e gravei uma demo. Eu queria escrever ela em Terça rima, com o esquema de rimas interligadas que Dante inventou na Divina Comédia. Ela foi escrita da perspectiva de Francesca desafiando o fato de ela estar no inferno. Algo que tive dificuldade inicialmente foi como escrever músicas inspiradas por essa peça literária em 2021 ou 2020 quando também parecia certo contrariar os valores escritos por Dante nessa peça. Mesmo com todo o choro e sofrimento que Dante (personagem) mostra à Francesca e Paolo na peça, Dante (o poeta) escreve de forma: "é, essas pessoas deveriam sim estar no inferno."


Há um conflito real ali. Então essa demo de Francesca foi ela aceitando o fato de que ela estar no inferno era uma história de ficção escrita por homens e ela rejeita isso, e escrevi ele em Terça rima - ou pelo menos tentei.


Foi difícil, olhando para trás; eu tinha feito a demo, não tinha certeza de como seria o álbum e de como ele se formaria, mas meu pensamento inicial para essa música, revelando aqui agora, era contatar Sinéad O'Connor e ver se ela tinha interesse em participar do álbum com essa música. Foi algo que discuti com minha equipe na época.


Isso foi bem no início dos trabalhos, mas percebi que, se continuasse nesse caminho, acabaria sendo menos um álbum contemporâneo e pop e mais como uma produção do estilo da Broadway, e não consegui fazer essas duas coisas se encontrarem.



"Você costuma misturar imagens poéticas com comentários sociais, usando sua plataforma para falar sobre seus valores e questões importantes. Como você se mantém esperançoso e inspirado, especialmente no cenário político global atual? Não apenas profissionalmente, mas também pessoalmente. P.S.: Eu amo seu trabalho." — ZOE STEAD, PERTH, AUSTRÁLIA


Muito obrigado Zoe, há muita coisa acontecendo no mundo, tanto politicamente quanto globalmente, que me aterroriza, me confunde e me revolta tanto quanto qualquer outra pessoa. Tudo o que sempre tentei fazer foi colocar um elemento da minha consciência no trabalho, ou às vezes sinto que ela simplesmente encontra seu caminho até lá naturalmente.


Já ter esperança é algo diferente, acho que consigo colocar consciência no trabalho, mas manter a esperança todos os dias é diferente e muito, muito difícil. Não posso dizer que tenho motivos para ser esperançoso a curto prazo. Vimos um genocídio se desenrolar ao vivo diante de nós, com pouca ou nenhuma resposta significativa por parte dos líderes mais poderosos do Ocidente. Eu, como muitas pessoas, estou extremamente preocupado com o futuro da política global e com a arquitetura dos direitos humanos e como o regime dos direitos humanos está sendo aparentemente desmontado em todo o mundo por atores de má fé.


Também tenho visto o discurso online se deteriorar e gigantes da tecnologia com suas empresas privadas monetizarem nossa indignação e nossas divisões, programando bots de IA para fazerem o mesmo.


O que me dá esperança é ver que as pessoas ainda se revoltam contra essa violência e contra esse ataque a civis.


Que pessoas no mundo todo estão arriscando muito ao defender a paz e a humanidade todos os dias, que existe uma consciência coletiva indignada e profundamente ferida pela criminalidade que todos estamos testemunhando.



"Você joga videogames? Eu e meu pai amamos sua música!" — BRENNA VELD, DUBLIN


Obrigado! Fui apresentado aos videogames bem jovem. Acho que meu pai, que era bem ligado em tecnologia, pegou um NES um dia e levou para casa. Meu tio também costumava nos surpreender com todo tipo de aparelhos. Fiquei fascinado por essa mídia, especialmente por ter tido contato tão jovem.


Hoje em dia não tenho tanto tempo para isso, mas gosto de alguns jogos e tento acompanhar os desenvolvimentos e lançamentos de alguns estúdios diferentes.



"Existe alguma mensagem particular ou sentimento que você gostaria que os ouvintes do Unreal Unearth tivessem ou você acha que sua música é mais um espelho para a interpretação de cada um, onde o significado é algo que eles devem encontrar por conta própria?" — DARIA KOSTADINOVA, QUEDLINBURG, ALEMANHA


Eu não tenho uma resposta detalhada ou fácil para isso. Eu não necessariamente abordo a escrita de um álbum esperando que haja um único significado que as pessoas descubram. Grande parte do processo de criação de um álbum envolve passar por uma série de versões e há muitos elementos de experimentação envolvidos.


Há elementos de fluxo criativo e observar algo se desenvolver, e também de entender o que é enquanto está sendo feito. Como já disse antes, no Unreal Unearth houve algumas maneiras diferentes de tentar incorporar a Divina Comédia de Dante que eram bem mais específicas em relação ao texto, antes de permitir que o álbum girasse mais em torno dos nove temas. Para mim, queria que fosse algo como uma jornada da escuridão para a luz. Que no começo houvesse uma reflexão sobre a escuridão absoluta e a entrada nesse espaço absoluto com De Selby (Part 1), e como você se liberta desse espaço (como na interpretação de John Moriarty sobre o que ele chamou de A escuridão benéfica / A escuridão doadora de Deus), e então terminar com First Light, saindo de lá com essa cena gloriosa, a Terra iluminada como se fosse pela primeira vez.


ree


"Você lançaria um álbum ao vivo e incluiria 'The Monster Mash' como faixa bônus?" — JENNIFER VAN HORN, ABSECON, NOVA JERSEY, EUA


Não posso falar por “The Monster Mash”, eu não toco mais essa música. Mas já pensei em fazer um álbum ao vivo e gostaria de fazê-lo de uma forma que apresentasse o trabalho de um jeito que ainda não tivesse sido ouvido antes. É aquela sensação de trazer algo novo para o mundo, seja com novos arranjos, instrumentação etc.



"Qual foi a melhor parte e a mais inesperada da sua turnê na América Latina mais cedo neste ano? Você sabia que tinha esse tanto de fãs que conheciam cada uma das suas músicas?" — MALENA BERNARDIM, GUARAPUAVA, BRASIL (ADM DO PORTAL AQUI, HIIII!)


Foi absolutamente incrível voltar para a América Latina este ano. Sempre fico maravilhado com a energia que o público leva para os shows...a gentileza, a doçura, a atenção deles. Pude encontrar fãs pela segunda vez esse ano, conheci vários outros pela primeira vez também. Houve momentos na América Latina em que eu ouvia minhas músicas sendo cantadas mais alto do que eu já tinha ouvido antes, até mais alto do que em países de língua inglesa ou majoritariamente de língua inglesa. Isso sempre me deixa impressionado.



"A vida de turnê na estrada é difícil para qualquer um. Isso torna difícil manter relacionamentos ou levar uma vida 'normal'?" — DAVID SILVA, DUBLIN


David, obrigado. Em resumo, sim. Pode ser difícil manter relacionamentos. Uma das questões que você precisa pensar é “o que uma 'vida normal' seria ou significaria para você?”. Existe uma aceitação de que, se você é um músico que faz turnês, isso é parte da 'vida normal,' de que os aviões, ônibus, shows e o sono irregular fazem parte do que você faz. Parte disso É o seu “normal”.


Acho que quando você aceita isso, as coisas se tornam mais fáceis. Mas eu demorei um bom tempo para aprender como equilibrar essa vida e conseguir formar e manter relacionamentos, relacionamentos íntimos. E isso ainda é algo que est´á em andamento. O que ajuda é ter pessoas que te apoiam e eu fui abençoado com isso.



"Se pudesse voltar no tempo e dizer uma coisa sobre compor músicas para a versão de si mesmo que estava escrevendo seu primeiro álbum, o que seria?" — EVIE FRAWLEY, NENAGH, IRLANDA


Eu não diria absolutamente nada. Honestamente, essa é a parte mais engraçada, quando você olha para trás, para quando você não tinha nada a perder, você era um completo desconhecido, um azarão.


Não saber como não escrever uma música ou não ter uma noção do jeito “certo” ou “errado” de compor, é um tipo de magia que você pode perder dez anos depois na carreira. Depois, você começa a ter o peso da expectativa das pessoas, e esse tipo de coisa pode virar um obstáculo criativo. Você também lida com a projeção das pessoas, então começar lá atrás é muito leve, já que você não conta com o peso de tudo isso.


Isso sem considerar as habilidades que você desenvolveu nesses 10 anos, claro. Mas eu não diria nada para mim mesmo, talvez diria apenas: "Continue o que está fazendo." Tem algumas sabedorias e lições que você poderia tentar compartilhar, mas acho que para esse álbum de estreia, às vezes é preciso simplesmente fazer o álbum que você está fazendo, o que pretende fazer.



"'Too Sweet' foi minha música mais tocada no Spotify Wrapped de 2024. Qual é a sua música mais tocada no Spotify?" — SARAH KEAPPOCK, DUBLIN


Tive que pesquisar isso e, infelizmente, o Spotify só mostra seu último mês ou então seu resultado do ano passado. Mas algumas músicas que tenho ouvido muito recentemente — e ao longo do ano passado aparentemente — são:


  • Khruangbin & Leon Bridges – Mariella

  • Mitski – I Bet On Losing Dogs

  • Kings Go Forth – High On Your Love

  • Mk.gee – Are You Looking Up?

  • Little Dragon – Where You Belong

  • Aretha Franklin – Ain’t No Way

  • Stella Etella & Redinho – Charmed

  • The Gloaming – The Sailor’s Bonnet


E, no último mês, estive ouvindo bastante:

  • J.J. Cale – Sensitive Kind

  • Angie McMahon – Beginner

  • Mereba – Rider

  • Original Koffee – Pull Up

  • Moondog – Bird’s Lament



"Quando você largou a faculdade, tinha a menor ideia de que chegaria onde está hoje?" — JADE RODEMOYER, PITTSBURGH, PA, EUA


Certamente não. Acho que tive a sorte de ter um público que cresceu até o tamanho que tem hoje. Isso não foi algo que previ ou sequer esperei, que as coisas chegariam nessa escala. Eu sabia que queria escrever música contemporânea e gravar minhas músicas, ser um artista solo. Eu sabia que o tempo e as habilidades que eu tinha que ter para fazer isso acontecer não eram coisas que eu tinha total acesso estudando o que eu estava estudando na época. Mesmo que eu gostasse muito e adorasse os amigos que estava fazendo na faculdade, eu sabia que não seria completamente feliz ou realizado se não investisse de forma correta na escrita e no lançamento das músicas.


ree


"Você se lembra de me dar gorjeta quando eu toquei na rua em 2020 ou 2021? Eu estava bem em frente ao Bewley’s cantando 'Zombie'. Eu não percebi que era você até você passar de novo e acenar para mim. Nessa hora eu já estava cantando 'Redemption Song' e não quis parar e fazer uma cena. De qualquer forma, só queria dizer que fiquei muito grata pelo reconhecimento, obrigada. Se algum dia quiser ouvir minha música, uso o nome LARAbEL."  LARA SWEENEY, DOHERTY, DUBLIN


Acho que me lembro vagamente, sim. Bem em frente ao Bewley’s. Lara Sweeney, espero que esteja tudo dando certo para você e que ainda esteja cantando.


Eu me lembro disso sim. Lembro de ficar empolgado por ouvir “Zombie” naquela rua. Talvez agora haja mais rotatividade no repertório de quem toca na rua, mas, na época, fiquei feliz de ouvir “Zombie” em 2020 porque não parecia uma escolha comum para músicos de rua.


Então parabéns por isso. Você tocou lindamente e mandou bem por lembrar disso até hoje, é incrível. Continue! Espero que as coisas estejam ótimas com você, Lara.



"Se um músico de rua estiver cantando uma das suas músicas, você para para ouvir ou tenta passar o mais rápido possível?" — SIMON MALONE, ENNIS, IRLANDA


Geralmente tento não me tornar o centro das atenções e posso ficar bem desconfortável ou tímido numa situação dessas. Então depende em quão cheia está a rua. Pode ser incrível ter um momento com alguém que está cantando sua música. Mas se estou em um lugar público, normalmente tento não chamar a atenção.




"Muitas das suas músicas evocam imagens vívidas, como histórias. Você já pensou em escrever ficção ou poesia além da música? Talvez um romance ou contos?" — MARIANA DI LAURO, BUENOS AIRES, ARGENTINA


Nunca se sabe, nunca se sabe. Tenho algumas ideias para histórias que já carrego há anos, mas é realmente uma questão de ter o tempo e o espaço para isso e, acho que, contar uma história longa também exige muita pesquisa e, até agora, não tive tempo para me dedicar totalmente a isso. Mas, nunca se sabe.



"Quem você acha que foi uma grande influência para formar a pessoa, o ativista e o músico que você é hoje?" — CELESTE JARA, CURICÓ, CHILE


Acho que somos abençoados na Irlanda por termos uma riqueza de figuras políticas históricas e escritores que estiveram envolvidos em diferentes formas de ativismo. Também tivemos muitos revolucionários que deixaram muitos de seus escritos para nós. A Irlanda teve muitos escritores em épocas de grandes mudanças civis, escritores em tempos de revolução, assim como muitos escritores que foram revolucionários em sua abordagem. James Joyce, por exemplo, virou a literatura e a língua inglesa do avesso, subvertendo a noção do romance tradicional, etc.


Então, não consigo apontar apenas um, mas acho que ter vindo da Irlanda com interesse pela história, ou pelo cenário político em transformação da Irlanda e por como fomos afetados pelo colonialismo e imperialismo — as leis penais, por exemplo: se formos olhá-las com olhos honestos e consciência, essas são as influências que nos moldam, moldam nosso instinto político e moldam o instinto da nossa consciência coletiva.



"Como artista, tenho dificuldade em saber quando dizer que uma obra está finalizada e me afastar dela. Como você sabe quando a música em que está trabalhando está pronta?"  ALIA BELL, COLORADO SPRINGS, EUA


Alia, honestamente, essa é uma das partes mais difíceis para mim ao trabalhar em uma música. Não querendo simplificar, mas ter um prazo realmente ajuda.


Às vezes também é sobre aceitar que a obra não pode ser tudo. Ela só pode ser aquilo que deseja expressar.


Se você conseguir destilar isso até sua essência de forma que ressoe adequadamente, que o sentimento ressoe com você e que atinja tudo o que precisa atingir dentro do seu próprio propósito, isso já é suficiente em si mesmo.



"Já houve alguma obra visual – pintura, escultura ou imagem gráfica, talvez até algo do trabalho da sua mãe – que inspirou diretamente uma de suas músicas? Se sim, qual foi a obra e qual música ela influenciou?"  JENNIE HADLEY, SAN DIEGO, EUA


Posso te dar um exemplo, talvez: você conhece a imagem chamada de rosa celestial ou rosa branca do Céu? Caso você conheça aquela imagem de Paradiso (da Divina Comédia), ela me marcou muito.


Ela tem um grande e expansivo senso de leveza e luminosidade. Eu estava tentando capturar um pouco disso em First Light. Esse seria um exemplo simples.



"Você é conhecido por ler clássicos e incorporá-los à sua arte. Você costuma ler algo 'divertido'? Estou morrendo de curiosidade para saber se existe algum livro de fantasia ou romantasia escondido na sua estante!" CEYDA EREM, SYDNEY, AUSTRÁLIA


Enquanto estou na estrada, não tenho muita capacidade de ler coisas muito densas. Os últimos livros que tenho apreciado têm sido de fantasia.


Então, Duna, de Frank Herbert, eu estava ouvindo como audiolivro justamente enquanto estava na estrada. Nunca me interessei por audiolivros até recentemente, este ano e ano passado. Estou gostando, é algo que simplesmente me tira do momento, sabe?



"Quais músicas do seu repertório são mais exigentes vocalmente? E o que você faz para cuidar do seu principal instrumento: sua voz?"  LIZETH CASIAN, CIDADE DO MÉXICO


As músicas mais novas são bastante exigentes vocalmente, como De Selby (Part 2), onde atinjo algumas das notas mais altas que já cantei no palco em plena voz.


Nobody’s Soldier, Francesca, todas são grandes músicas para cantar; Unknown também. Recentemente recebi ajuda de um excelente treinador vocal, Rob Stevenson, para aperfeiçoar minha técnica e prevenir tensão.


Então, aqueço pelo menos uma hora antes do show, geralmente duas sessões de 30 minutos ou mais, e depois do show faço um desaquecimento, então é bastante coisa.


No dia do show, bebo três ou quatro litros de água. Trato como se fosse correr uma maratona, sabe?



"Você tem uma grande base de fãs na América Latina. Já pensou em gravar uma música em espanhol ou colaborar com artistas latino-americanos?"  LUCY LUCIO, MÉXICO


Adoraria explorar isso em algum momento, ou até traduzir algumas das minhas músicas e do meu trabalho seria muito gratificante. Então, nunca se sabe, é algo que eu adoraria pensar sobre.



"Olá, Andrew! Qual é um sentimento que você nunca conseguiu colocar em uma música, não importa quantas vezes tenha tentado? E eu só quero dizer obrigada pela sua arte. Ela é minha musa quando escrevo ou pinto."  MARIA IBRAHIM, IRAQUE


Já tentei escrever sobre sentimentos ligados à paralisia criativa. Houve algumas músicas que escrevi durante o lockdown, na pandemia, que não chegaram a ser lançadas porque tratavam dessa sensação de estagnação. Acho que esse é um sentimento muito, muito difícil de executar de forma convincente.


Eu não as lancei, mas também tem aquele sentimento parecido com um episódio depressivo esmagador. Existem muitos. Acho que escrever sobre paralisia criativa ou um tipo de bloqueio para escrever seja algo interessante de se fazer como escritor para si mesmo. Embora eu não saiba o quão agradável seria ouvir isso.



"Você tem uma palavra favorita em irlandês e o que ela significa?"  MIKAYLA MASON, CORVALLIS, OREGON


Tenho bastante. Acho que é uma língua tão bonita e a forma como descreve as coisas no mundo natural. Eu ouvi um dia desses que existe uma palavra para o som do vento ou do ar assobiando numa baía. Isso é tão lindo para mim, acredito que a palavra seja ‘stranach’. Eu adoro 'Bóín dé' (joaninha), tipo “vaquinha de Deus”, e tenho visto cada vez mais pessoas celebrando essas facetas da língua, e acho isso incrível.


ree


"Você sempre foi muito aberto sobre a influência da música e da arte negra na sua própria música. Como a música e a arte negra influenciaram o seu ativismo?" — LIBERTY HAYNES, CASHEL, MAYO, IRLANDA


Grande parte da jornada de direitos civis da Irlanda nos anos 60, e do próprio movimento de direitos civis do país, deve-se à inspiração vinda do movimento de direitos civis americano.


Bernadette Devlin McAlliskey falou sobre como o movimento de direitos civis foi influente para o movimento deles no Norte. Fico bastante fascinado por como essas lutas estiveram ligadas em alguns momentos no passado — o abolicionista Frederick Douglas tirando esperança dos escritos e petições do nosso celebrado emancipador Daniel O’Connell, por exemplo, antes de suas viagens à Irlanda para falar a multidões de apoiadores. Pelo que ele escreveu sobre isso, esse ato de solidariedade irlandesa parece ter sido realmente significativo para esse homem incrível.


Também fico sempre fascinado por como Bernadette Devlin McAlliskey descreveu ter sido homenageada em Nova York, cercada por ricos irlandeses-americanos e outros nova-iorquinos que não estavam tão interessados em suas preocupações com as comunidades de outras minorias sendo excluídas ou deixadas para trás naquela cidade.


Ela descreveu ter ouvido as mesmas coisas sendo ditas sobre comunidades negras em Nova York que passou a vida inteira ouvindo sobre sua própria comunidade católica na Irlanda do Norte. Ao receber a chave da cidade das mãos do prefeito, ela atravessou a cidade e a entregou aos Panteras. Sempre fico fascinado com essa história.



"Diante de tudo o que está acontecendo no mundo hoje, você sente a responsabilidade de usar sua plataforma para se manifestar ou fazer a diferença?" —SHIRLEY MURPHY, CORK


Acho que, como muitas pessoas, como muitos atores, músicos – vou parafrasear o que Liam Cunningham disse, que é: “Eu não quero me encontrar daqui a 20, 30, 40 anos, quando, invariavelmente, a retrospectiva mudar os pontos de vista e as pessoas perguntarem tarde demais como foi que esse genocídio continuou, como foi que a limpeza étnica do povo palestino continuou, e não poderemos fingir que não sabíamos o que estava acontecendo, ou dizer “ah, é, não fizemos nada”.


Mas a sua pergunta foi sobre tentar fazer a diferença. Existe um desafio em estar entre o próprio horror, pavor e indignação no que ouvi Gabor Maté chamar de “ferida moral”, que nós, como testemunhas, estamos vivenciando ao assistir a essa desumanidade.


Então, há esse sentimento pessoal de indignação, mas também o resultado desejado. E, portanto, a sua pergunta fala sobre fazer a diferença e aí está a parte mais difícil, que eu sinto que é: “ok, bem, qual resultado eu quero ver e como isso poderia ser alcançado?”


Sabe, me disseram que vendemos cerca de um milhão de ingressos para a turnê nos EUA em 2024. Então, tive a chance de falar com cerca de um milhão de cidadãos americanos em solo americano, em lugares como Nova York, Texas, Flórida, da Costa Leste à Costa Oeste, de todos os estilos de vida e de todas as inclinações políticas, e pedir para que, por favor, contatassem seus representantes e apoiassem um cessar-fogo e o fim da ocupação e da violência que estávamos vendo em nossas telas. Não passava uma noite sem que eu pedisse para que manifestassem sua compaixão e preocupação.


Então, sim, eu sinto essa responsabilidade. Mesmo que fosse apenas para tentar fazer a diferença, essa foi a oportunidade que eu tive: implorar às pessoas e fazer isso pessoalmente, e é uma oportunidade que eu pude aproveitar. Eu ainda faço isso, noite após noite.



"Qual das suas músicas foi a mais dolorosa de escrever e qual te curou sem que você sequer percebesse?" OSANA FARIAS, SANTIAGO DEL ESTERO, ARGENTINA


Eu tenho dificuldade com a palavra “catarse”, mas algumas músicas dão a sensação de que você está se libertando de algo ou trazendo algo à tona do fundo do lago, algo que você finalmente pode expor ao ar e talvez dar um enterro adequado ou algo assim.


Certas músicas são extremamente próximas do meu coração. Recentemente, ouvi novamente Swan Upon Leda e percebi que havia esquecido o quão pessoal essa música era para mim, ou o quanto eu precisava escrevê-la.



"Qual é o seu top 4 filmes?"  MADDIE PRENTICE, WESTLAKE VILLAGE, EUA


Eu tenho muita dificuldade com isso. Lembro de ter me apaixonado por O Enigma de Outro Mundo, de John Carpenter, eu simplesmente amo os animatrônicos, a construção de maquetes nele, o desenvolvimento lento daquelas cenas tensas. Além disso, a trilha sonora é simplesmente fantástica em contraste com tudo isso.


Os Excêntricos Tenenbaums foi meu primeiro filme do Wes Anderson. Eu vi quando era criança e ele roubou totalmente meu coração. Sempre amei Os Infiltrados, talvez isso seja previsível demais, mas achei que foi um filme fantástico.


Embora eu não consiga pensar em um quarto filme favorito, sou um grande fã de Gary Oldman e acho que ele fez um trabalho magnífico em O Espião Que Sabia Demais. Esse foi um que vi recentemente e amei demais.



"Como estão as abelhas e quantas você tem? Se é que você já contou…" MCKENZIE FRANCO, HOUSTON, EUA


As abelhas estão indo muito bem, obrigado. Acho que, no momento, há cerca de quatro colmeias muito saudáveis, e não posso receber nenhum crédito por cuidar delas neste verão enquanto viajo e faço turnê, mas meu vizinho e querido amigo Quincey Fennelly tem sido muito gentil em cuidar das abelhas e recentemente resgatou uma colmeia. Isso fez com que chegássemos à quarta colmeia, mas as abelhas estão indo muito bem, obrigado.



"Você se lembra do seu brinquedo favorito da infância? Você ainda tem ele?" RIMMA RUDAKOVA, KALININGRADO, RÚSSIA


Não sei se me lembro do meu brinquedo favorito da infância. Eu adorava Lego, provavelmente passei mais tempo construindo coisas com Lego do que fazendo qualquer outra coisa e isso me marcou. Também me lembro de ter algumas ótimas miniaturas de Star Wars, todas as quais, infelizmente, acabaram indo parar em uma venda de garagem em algum momento.


ree


"Quando ouço a sua música, sinto como se estivesse flutuando, e meu peito se abre como uma flor desabrochando. Que sensações você experimenta no seu corpo quando canta e se conecta com a sua própria música?" CAROLINA DÍAZ, SANTIAGO, CHILE


Muito obrigado, Carolina. Acho que, para mim, essa sensação de abertura ou de ter alguma experiência emocional marcante acontece mais quando a música é escrita ou quando ela é descoberta por acaso, ou quando a ideia surge pela primeira vez.


Tipo quando você tem uma ideia e a canta pela primeira vez ou toca ela pela primeira vez, para mim, é essa mistura incrível de empolgação e, novamente, usando aquela palavra complicada, catarse, é realmente aí que isso acontece.


Mas isso também pode acontecer no palco, quando você vê alguém apreciando uma música e isso te reconecta com o que você amava originalmente numa canção que escreveu.



"A primeira vez que ouvi sua voz na Radio Woodstock, fiquei tão pasmo que precisei encostar o carro no acostamento porque literalmente perdi a cabeça! Eu nunca tinha ouvido uma voz tão cheia de alma em toda a minha vida, e eu tinha 58 anos na época! Existe algum artista que tenha causado o mesmo efeito em você?" MARY ZASLANSKY, FISHKILL, NEW JERSEY, EUA


Como disse anteriormente, há algumas vozes que me tiraram o fôlego quando as ouvi pela primeira vez, sabe? A voz de Nina Simone foi uma delas. Lembro-me da primeira vez que ouvi Cosmic Love, da Florence and the Machine, ouvindo a voz dela, aquela música e sentindo que havia uma enormidade nela, e ficando bastante tocado.


Ouvir Nick Drake pela primeira vez foi algo hipnotizante para mim, ouvir Riverman pela primeira vez. Fiquei impressionado com essa música.



"Você já escreveu algo que parecia pessoal demais para divulgar, algo que você guardou só para si?" MERIEM, ARGÉLIA


Sim, com certeza. Há muitas coisas que eu escrevo que não chegam aos ouvidos de outras pessoas. Pode ser um poema que escrevi para alguém que amo ou, você sabe, uma música que foi escrita para alguém. Às vezes, acontece de você escrever algo que parece tão específico da sua própria experiência que compartilhar isso soa, ouso dizer, quase como um ato de indulgência, sabe?



"Que livro ou coletânea de poesias de um autor irlandês eu deveria ler em seguida para me sentir mais conectado à Irlanda quando eu voltar daqui a alguns anos para a minha viagem de aniversário de 40 anos?" HARPER COTTAM, ARDEN


Eu adoro Dubliners, de James Joyce, e, se você se interessa pela história e política da Irlanda do início do século XX, Portrait Of The Artist as A Young Man também é uma leitura maravilhosa. Mas a poesia de Seamus Heaney é simplesmente um presente constante na minha vida, com certeza, então eu começaria por ela.



"Ei, Hozier! Tive a oportunidade de assistir aos dois shows que você fez no Brasil este ano e preciso saber: quais são as diferenças culturais que você nota quando toca em diferentes países ou continentes?" — KAROL CÂNDIDA, BRASIL (MAIS UMA ADM DO PORTAL!!!)


Obrigado por ter ido!


Cada lugar é diferente e algo que eu realmente gosto muito é, e isso é só a superfície, mas quando a plateia canta uma música para você, ouvir eles cantarem com aquele distinto sotaque coletivo é simplesmente incrível.


Recentemente, estávamos no Canadá, na cidade de Quebec, e ouvir as músicas com aquele tipo de sotaque francês canadense ou, na América do Sul, com um sotaque brasileiro ou argentino, é incrível.


E isso sem mencionar que existem diferentes energias e diferentes cantos, diferentes formas de as pessoas se expressarem em uma plateia. Mas sim, a questão do sotaque é simplesmente maravilhosa.


ree

"Existe alguma letra que você escreveu que, mesmo hoje, você ainda olha e pensa: 'Eu não faço ideia de onde isso veio'? E existe alguma música super inesperada ou até 'brega' que você ama, mas nunca admitiria até agora?" SABRINA CÁSTELA, BELO HORIZONTE, BRASIL


Existem letras que às vezes eu olho para a primeira gravação, primeiro álbum, e penso: "Nossa, isso foi muito pessoal ou profundamente íntimo" ou algo que eu acabo pensando onde tirei a coragem para colocar no papel. É como ler um diário de anos atrás, então eu tento me desculpar porque estava no início dos meus 20 anos.


Uma música 'brega' de outra pessoa que eu gosto? Existem várias e eu admitiria sobre elas. Não consigo pensar em nenhuma agora, mas não tem nada errado em gostar de uma música que tenha um pouco de 'breguice' nela se for algo que te traz felicidade.



"Qual foi o maior momento 'não acredito que isso está acontecendo” da sua carreira até agora?"  RAFAELA MOREIRA, PORTO ALEGRE, BRASIL


Eu não sei se você quer dizer isso de forma positiva ou negativa. “Isso não pode estar acontecendo”... Eu me lembro, para o Unreal Unearth — se eu puder compartilhar isso, espero que não seja indiscreto — eu tinha assinado milhares e milhares daquelas capas internas de álbuns, e então me contaram pouco depois que elas tinham sido enviadas por uma transportadora pela gravadora, mas a empresa responsável pela tarefa acabou perdendo tudo.


Então, no fim das contas, elas foram ou perdidas ou roubadas, e eu tinha passado muitas noites, muitos dias, muitos momentos livres assinando milhares e milhares e milhares dessas coisas, e aí elas se perderam no transporte ou foram furtadas, e decidimos, finalmente, simplesmente fazer tudo de novo.


Então, quando você diz “isso não pode estar acontecendo”, esse foi exatamente o momento de “isso não pode estar acontecendo”. Mas fizemos, e superamos. Ficou tudo bem.



"Tenho uma tatuagem inspirada no Wasteland, Baby! com a sua caligrafia, a lira de Orfeu e Eurídice da música Talk. Eu adoraria saber - você tem alguma tatuagem?" — GABRIELLA SIMÕES, SÃO PAULO, BRASIL


Tenho duas tatuagens pequenas em latim. Uma delas eu ganhei do artista, escritor e músico Stevie Appleby, um grande amigo meu, um ser humano incrível. Ele fez ela de forma manual (stick and poke) durante minha primeira turnê. Vim para casa, falei com ele e durante uma noite longa, achamos que seria uma boa ideia vir pra cima de mim com uma linha, uma agulha e tinta.


São as últimas palavras registradas de Seamus Heaney "Noli timere", que significa "Não tenha medo", que ele falou para sua esposa Marie Heaney antes de morrer.


E aí eu tenho outra em latim que fiz com meu irmão e meu pai. Outra frase, "Sine qua non", que significa "Sem isso, nada faz sentido". É uma expressão em latim que às vezes é usada em termos legais e etc. Fizemos ela em homenagem aos 60 anos do meu pai.



"Como você se sente sobre o povo irlandês protestando contra migrantes?" — LAURA GUTIERREZ, BOGOTÁ, COLÔMBIA


Isso me entristece, pois nós irlandeses temos uma longa história de emigração, especialmente em tempos de extrema dificuldade ou ao fugir de violências e fomes apoiadas pelo colonialismo. Fico perturbado ao ver como algumas das pessoas mais pobres do planeta têm recebido a culpa por tantos problemas profundamente graves e sérios, que foram explicitamente causados pelas pessoas e instituições mais poderosas e ricas do mundo.


Também é triste ver como alguns irlandeses, que dizem ter orgulho das atividades anti-imperialistas de seus ancestrais, em alguns casos extremos escolhem atacar vítimas que fogem dos horrores do imperialismo moderno, em vez de demonstrar resistência aos sistemas que continuam a gerar esses problemas.


Não tenho respostas fáceis para um questionário da Hot Press sobre esse assunto, Laura, mas aproveito estas linhas para encorajar as pessoas a olharem para o que está acontecendo no mundo agora e para a vida das pessoas que fogem disso, e apenas tentarem criar empatia a partir da compreensão de nossa própria história e experiência.



"Você deu seu próprio toque a músicas como Sweet Thing, de Van Morrison. Há algum cover em particular que, quando você o ouviu pela primeira vez, fez você pensar: 'Eu poderia fazer algo realmente especial com isso'? Como você aborda o processo de fazer um cover soar como seu?" — MACK METTEY, CINCINNATI, EUA


Acho que é simplesmente uma questão de sentar com uma música que toque você ou que você ache bonita e cantá-la de uma forma que pareça sua.


Às vezes é divertido se envolver na reorganização de uma música, mas às vezes é tão simples quanto trazer para ela aquilo que você ama em uma canção.



Sou professora de inglês nos EUA. Você teve algum professor que te inspirou ou encorajou a seguir a música/composição? — ALLY GILDERSLEEVE, OHIO, EUA


Fui abençoado por ter membros do corpo docente que realmente incentivaram e ofereceram um espaço onde as crianças podiam cultivar suas habilidades musicais, seus talentos ou seu interesse pela música.


Então, um grande agradecimento à Srta. Owens e à Jackie Olahan, que criaram diversas oportunidades ao longo dos anos para que os alunos pudessem apresentar músicas em que vinham trabalhando. Coisas que eles gostassem, fosse rock ou blues, no meu caso. Assim, apresentar uma música ou tocar para um público não parecia algo tão estranho ou distante como poderia ter sido se não tivéssemos tido essas oportunidades.


Sou muito grato por essa oportunidade e pelo trabalho que elas fizeram ao criar esse espaço, reservando esse tempo para nós.



"The Spinc em Glendalough, Bray Head, Devil’s Glen: qual caminhada você escolheria?" LEE, GLOUCESTERSHIRE, UK


Já fiz o The Spinc em Glendalough algumas vezes, eu adoro. Devil's Glen é lindo. Acho que eu faria o Bray Head, embora eu tenha ouvido dizer que houve algum tipo de deslizamento de terra entre Greystones e Bray Head. Não sei se ainda é tão acessível, mas eu faria a caminhada de Greystones até Bray e terminaria no Harbour Bar para tomar uma cerveja.


Eu adoro o Spinc e o Devil’s Glen, mas você não pode simplesmente ir até um pub no final. Talvez você possa, mas eu estaria muito longe de casa depois dessas cerveja, então é isso.



"Você tem vários pares de all-star branco ou mantém um par assustadoramente limpo?" — ZOE MCCASLAND


Eu tenho um par, mas não é tão limpo quanto você pensa. Se você vê de longe, do público, ou em fotos, parece bem limpo. Mas, se olhar de perto, está coberto de todo tipo de coisa… ketchup, manchas de café. Eu sou bem exigente com esses tênis e apenas tento dar uma esfregada neles, então acho que, em geral, um all-star branco dura cerca de um ano na estrada, com algumas lavagens nesse tempo. Mas o par que tenho usado no último um ano e meio foi recentemente doado para uma organização em Ottawa e será leiloado para arrecadar dinheiro para uma instituição de caridade local.



"Você aceitaria ser um jurado convidado no Drag Race?"  WINTER MCCARTHY, CORK


Só posso dizer que acho que não tenho as qualificações necessárias para ser jurado convidado, mesmo que a ideia seja legal.



"Mbeidh liricí as Gaeilge i do cheol arís amach anseo? (Haverá mais letras em irlandês nas suas músicas no futuro?) Ouvir a letra de De Selby em irlandês me emocionou muito. Eu tenho um irlandês bastante limitado porque eu achava muito difícil de aprender quando era mais nova. E agora aos poucos estou reaprendendo o básico." AOIFE ROSSER, DUBLIN


Eu adoraria explorar mais isso. Fico muito inspirado e grato por artistas como Kneecap, que estão trazendo a língua irlandesa para as pessoas ou oferecendo um espaço e um trabalho que possibilitam às pessoas conhecerem a língua de uma forma diferente. Sua abordagem é jovem, subversiva e também decolonial. Sou extremamente grato e empolgado com isso. É algo que eu adoraria explorar mais no trabalho futuramente, com certeza.


ree




Distribuição: Hot Press Magazine

Tradução: Portal Hozier Brasil




Comentários


bottom of page